09/07/1998

se me olhas sem camisa e reclamas é porque não consegues parar de olhar
que culpa tenho eu?
se olhas é porque quer, não porque peço
estou a jogar o lixo fora, meu lixo fora.
seu olhar não me diz nada.
a você pode dizer algo
e isso não me importa
minha falta de camisa não é por sua culpa ou por seu pedido
se estou aqui despido nesse corredor com dois sacos de lixo na mão é porque quero
e se não queres me ver sem camisa, que não me veja, que não me meça, que vire o rosto
não se importe comigo. com o morador a jogar seu lixo na lixeira.
e ainda sim reclamas como se eu estivesse errado
um mendigo cagando na rua e tu viras o olhar
e nesse corredor não virastes, não fizestes nada a não ser continuar a olhar para mim
culpa minha?
o mendigo já se limpou e eu já joguei meu lixo fora.

23/06/2004

começou primaverando as minhas dúvidas. anteontem, veraneava a minha existência. logo após, outonou as minhas expectativas. invernastes, por fim, minha esperança. sendo assim, o curto ano da graça de sua chegada.

01/08/2005

na mesma louça que limpas. talvez, seja a minha. para cada boca que trafica. não, não é a polícia. de onde a louca se esquiva. imagino, numa revista. a cada moça que se indigna. sim, eu sou machista.

11/10/2003

aqui espero o grande expurgo. o grande empurro. o grande ceifamento. que essas vidas vazias de qualquer coisa. que essas mente cheias de nulidade. sejam levadas a outros cantos. que sejam perpetuadas para outros mantos. para que eu não precise passá-los de ano.

06/12/1997

a verdadeira luz na penumbra. três sóis, seis luas.  findada a ronda noturna. dentro do escuro da viatura. a fome de quatro mendigos. a memória de mais alguns dígitos. o corpo de um novo martírio. que faz o feio ao lado do linho?

14/05/1994

os versos que vem e vão. as lembranças de mão em mão. um pedaço de taça de vinho. a certeza de um copo vazio. a dúvida de todo então. a dívida de um ou outro irmão. nas asas de um assovio. as querelas de um velho navio.

19/03/1995

alhures. ortodoxo que era. fonético que esquecia. quase léxico sem vida. hitherto de um descaminho. parte de nada que dizia. do tudo que abraçava. do homem que chorava. da mulher que ria.